quarta-feira, 5 de maio de 2010

Últimos restos de civilização cristã



Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho, porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.

E os donos da casa recebiam alegres a visita: ‘Vamos nos assentar, gente! Que surpresa agradável!’

A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre, e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro, casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.

Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras, que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, alguém lá da cozinha, geralmente uma das filhas, dizia: Gente, vem aqui pra dentro, que o café está na mesa.

Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.

Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou, e me formei em solidão. Para isso tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua, e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa, e as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.

Casas trancadas. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos, do leite...*
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* José Antônio Oliveira de Resende, professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura da Universidade Federal em São João d’El-Rey (MG).

sexta-feira, 26 de março de 2010

Comer um saco de sal juntos

A convivência é a chave para que o amor se convença que é realmente amor.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sono e pensamentos

Assim adormeço...
Relembrando o agradável perfume de sua surpresa numa manhã de domingo.
Na memória está a fragância de seu amor,
na mesa da sala de jantar, o carinho materializado.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Tenha um (a) amante!

Um terapeuta espanhol vem receitando uma coisa simples mas que, às vezes, assusta: um amante! E para quem sai da consulta escandalizado, o terapeuta explica: "Amante é "aquilo que nos apaixona", é o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono e é também aquilo que, às vezes,nos impede de dormir.
O nosso amante é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido ea motivação da vida. Às vezes, encontramos o nosso amante em nosso parceiro, outras, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis.
Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica, ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na espiritualidade, na boa mesa, no estudo ou no prazer do passatempo predileto...
Enfim, é "alguém" ou"algo" que nos faz namorar a vida e nos afasta do triste destino de "ir levando". E o que é "ir levando"? É ter medo de viver, é vigiar a forma como os outros vivem, é tomar remédios multicoloridos, afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado cada ruga nova que o espelho mostra,é se aborrecer com o calor ou com o frio, com o sol ou com a chuva.
Ir levando é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo se contentar com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã. Por favor, não se contente com "ir levando"!

Procure um amante, seja também um amante e um protagonista ... da sua vida..." Acredite: o trágico não é morrer, mas desistir de viver. Por isso, sem mais delongas, procure um amante! Para estar satisfeito, ativo, jovem e feliz, é preciso namorar a vida!"
Recebido por email

segunda-feira, 1 de março de 2010

Clausura

Edvard Munch, modelo perto de cadeira

Perdi a visão aos 23 anos de idade num acidente de automóvel, deslocamento da retina, disse o médico.
A frase "começar tudo de novo" tem um significado imenso pra mim. Aprendi a andar, sentir o mundo de modo diferente , ouvir com mais atenção e tentar perceber o que acontece à minha volta sem ter a visão para me auxiliar. Não foi fácil, não é fácil e por isso, decidi isolar-me, pois conviver comigo tornou-se insuportável até pra mim.
Deixei minha antiga vida de lado, incluindo família e até meu grande amor. Precisava me encontrar nessa vida imposta a mim por uma tragédia que me tirou o bem que eu achava mais precioso: ver!
Escondi-me no alto de uma colina, numa casa abandonada, tendo por companhia meu cão guia, que numa de suas andanças enquanto eu dormia, encontrou uma companheira para sua solidão canina e milagrosamente ou talvez por instinto animal, a danada da cadela aprendeu a guiar-me na escuridão.
Não sei se um dia voltarei para meu mundo, só sei que descubro um outro modo de viver na companhia de um casal de cães apaixonados que se dispuseram a ser meus olhos.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Migração

"Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar”
Rubem Alves


Por mais que o amor fosse certeza e não mais precisasse de provas pra se saber amor, as escolhas individuais e o amor primeiro do eu falou mais forte.
Então com um sorriso nos lábios e nenhuma promessa, despediram-se com o coração alegre. Não era um adeus, não existia a distância, mas havia o desejo de encurtá-la a cada pensamento.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Felicidade se escreve com simplicidade

Veja, a felicidade é mais simples que fazer panqueca. Mais doce que calda de morango.
É questão de se deixar tomar pelos seus sonhos e seguir em frente com o coração aberto e um sorriso nos lábios.